Primeiro caso foi confirmado no dia 21 de dezembro de 2021, mas grupo de pesquisa revelou que a variante já havia chegado em Santa Catarina pelo menos no início do mês.
Pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) comprovaram que a variante Ômicron da Covid-19 circula no estado desde o início de dezembro, ou seja, antes mesmo da confirmação oficial do primeiro caso em 21 de dezembro de 2021.
A descoberto foi possível através do projeto de sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2 coordenador pelo professor Glauber Wagner, do Laboratório de Bioinformática do Departamento de MIP (Microbiologia, Imunologia e Parasitologia).
Ao longo do períodos, foram avaliados mais de 1,8 mil amostras de 157 municípios que confirmaram a presença de cinco variantes: Alfa, Beta, Gama, Delta e Ômicron.
O projeto está próximo da segunda fase fase que deve analisar até 539 amostras até o fim deste mês, totalizando 2,4 mil genomas sequenciados em cerca de seis meses.
Anteriormente, a alta transmissibilidade da Ômicron ficou evidente para os pesquisadores. Enquanto na segunda semana de dezembro ela representava menos de 4% das amostras sequenciadas, na última semana do ano esse índice chegou a 80%.
“Em 15 dias, a Ômicron dominou completamente o cenário em Santa Catarina. Ela inverteu o cenário das variantes, reduzindo drasticamente os casos da Delta”, salienta Glauber.
Conforme a pesquisa, na segunda semana de janeiro, já representava 99% das amostras e, duas semanas depois, chegou a 100%. No final de janeiro e início de fevereiro, foram detectados, ainda, quatro casos da BA.2, uma sublinhagem da Ômicron.

O coordenador do projeto destaca que o estudo possibilitou acompanhar em tempo real a mudança de comportamento ao longo da pandemia e como uma variante foi predominando no lugar da outra.
“A Gama primeiro, em grande proporção, depois, vem a Delta ao longo do ano. Depois some a Delta, vem a Ômicron, e agora já temos a BA.2 presente. A gente vai ter que acompanhar as próximas semanas para ver o comportamento dessa variante, em especial pós-período de Carnaval”, relata o pesquisador.
De acordo com o boletim de vigilância genômica da SES (Secretaria de Estado da Saúde), atualizado no dia 2 de fevereiro deste ano, a Ômicron se tornou a principal variante em janeiro de 2022. Sendo assim, segue o mesmo fluxo apresentado pelos pesquisadores da UFSC.
Ainda de acordo com o grupo de pesquisa, acompanhar as novas mutações e saber quais variantes e genótipos virais estão circulando é fundamental para a gestão da pandemia e implementação de políticas públicas de saúde.
Foi exatamente a chegada da variante Ômicron que possibilitou que o projeto fosse prorrogado e aumentasse o número de sequenciamento semanal.
“Esse aumento semanal acabou gerando uma aceleração na geração de dados do projeto: atingiremos este quantitativo de amostras até o final de abril”, afirma Glauber.
Em cerca de quatro meses, já foram sequenciadas 1.861 amostras – nove vezes mais do que foi sequenciado em todo o primeiro ano do projeto
Primeira e segunda ondas
Na primeira etapa do projeto, foram sequenciadas 203 amostras coletadas de março de 2020 a abril de 2021. Em um artigo publicado no último domingo, 27 de março, na revista científica Viruses, os pesquisadores apresentam o resultado da análise dessas sequências e de outras 527 coletadas no mesmo período e disponibilizadas em uma base de dados pública (Gisaid).
O estudo mostra que 23 diferentes variantes circularam por Santa Catarina ao longo do primeiro ano da pandemia, um perfil que, segundo Glauber, foi muito parecido com o que se observou pelo Brasil.
A distribuição geográfica das variantes ao longa da segunda onda chamou a atenção dos cientistas. Entre janeiro e março de 2021, duas sublinhagens da variante Gama dominaram Santa Catarina.
A linhagem original foi a predominante em quase todas as regiões. A exceção foi o Oeste de Santa Catarina, por onde se espalhou principalmente a sublinhagem P.1-like-II.
Neste mesmo período, a região apresentou os maiores índices de mortes por caso. Apesar disso, o coordenador Glauber Wagner afirma que ainda não é possível confirmar que a variante é exclusivamente a causadora do índice elevado ou que é o único motivo.
“É um fato interessante que a variante tenha circulado mais predominantemente naquela região naquele período. Depois essa variante acabou reduzindo sua frequência, e aí a variante VOC Gama (P.1) tornou-se predominante no estado todo”, comenta Glauber.
Como funciona
Todas as amostras usadas no estudo são provenientes do banco do Lacen/SC e coletadas por meio de testes do tipo RT-PCR realizados nos diversos municípios catarinenses.
A seleção é feita de forma aleatória, mas seguindo critérios epidemiológicos da Secretaria de Saúde, que se baseia nos indicadores de cada regional para garantir que a amostragem seja representativa do estado. Em média, 96 amostras são sequenciadas por semana.
Do Lacen, elas são levadas para a UFSC, onde é feito todo o processo de extração do material genético e preparação das amostras, que são, então, encaminhadas para a empresa parceira BiomeHub, para o sequenciamento dos genomas.
Os dados brutos gerados voltam para a UFSC, e os pesquisadores os analisam e comparam com bancos de dados públicos para determinação das variantes e mutações.
“Faremos as análises epidemiológicas junto com a equipe da Vigilância Epidemiológica do Estado e pesquisadores de Saúde Pública da UFSC. Pretendemos, a partir deste momento, ter uma ideia melhor sobre o comportamento das variantes em relação aos indivíduos, faixa etária, comorbidades e dados vacinais”, conta Glauber.
Os dados também são depositados em bancos públicos, além de abastecerem o site do projeto. O intervalo entre a realização dos testes de covid-19 e a publicação dos resultados é de cerca de três semanas.
O prazo inclui os cálculos necessários para a seleção das amostras e os processos de separação, preparação e sequenciamento.
Criação da Rede de Vigilância Genômica
A implementação da Rede de Vigilância Genômica do vírus em Santa Catarina, instituída através de uma portaria da SES (Secretaria de Estado da Saúde), é parte dos desdobramentos do projeto.
Dessa forma, a ação tem finalidade de monitorar a diversidade e evolução do coronavírus em Santa Catarina. Como resultado, permitindo a melhor compreensão sobre a origem de surtos, epidemias e padrões de transmissão.
Covid-19 em SC
De acordo com o boletim epidemiológico da última segunda-feira (28), mais de 1,6 milhão de casos já foram confirmadas em Santa Catarina, sendo que 166 são registrados na última segunda.
Entre eles, 21.651 catarinenses morreram em decorrência da doença. A atual taxa de letalidade é de 1,3%. Atualmente, 4.076 pessoas seguem em recuperação e podem transmitir a doença.
Conforme o Vacinômetro SC, atualizado nesta terça-feira (29), 5,6 milhões de catarinenses completaram o esquema vacinal primário.
Entre eles, 2,2 milhões já receberam a dose de reforço. A taxa representa 40,22% das pessoas acima dos 18 anos que estão com a vacinação contra a Covid-19 em dia. Além disso, 6.103.979 pessoas receberam, no mínimo, a primeira dose do imunizante.
Fonte: ND Mais