SC: Com alta de casos da dengue, cientista estuda técnica para impedir ciclo de transmissão

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Pesquisa pode chegar a resultados inéditos na compreensão do comportamento dos mosquitos que não adoecem mesmo com alta carga viral.

Um cientista da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) estuda uma técnica para impedir o ciclo de transmissão da dengue. O objetivo é entender como o Aedes aegypti convive com o vírus sem morrer, para inibir esse mecanismo de adaptação. A doença aumentou 55% no Brasil desde o início de 2022.

O estudo é coordenado pelo professor José Henrique Oliveira, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da universidade. A pesquisa pode chegar a resultados inéditos na compreensão do comportamento dos mosquitos que, ao contrário dos seres humanos, mesmo com alta carga viral não adoecem. O projeto é financiado pelo Instituto Serrapilheira.

“Entender porque os mosquitos sustentam a replicação do vírus, mas não am por nenhum problema de saúde associado a isso é uma pergunta biológica, uma falta de conhecimento nosso que podemos explorar para impedir a propagação de dengue. Para isso, a gente investiga de que forma a gente pode pensar em inibir esses processos celulares que fazem o mosquito não adoecer”, contextualiza o professor.

Desde o começo do ano, foram registrados quase 400 mil casos prováveis de dengue no país, um aumento de 95% em relação ao mesmo período do ano ado, segundo o Ministério da Saúde.

Até o momento, são 184 casos para cada 100 mil habitantes neste ano. Foram confirmados 112 mortes por dengue no país, das 280 pessoas que desenvolveram agravamento da doença.

Santa Catarina, com ao menos 12 registros, está entre os Estados com o maior número de mortes por dengue ao lado de São Paulo (38), Goiás (17), Bahia (10) e Minas Gerais (6). Além disso, mais de 170 mortes ainda são investigadas no Brasil e podem estar associadas à dengue.

Como o mosquito se adapta

Estudar as proteínas e mecanismos relacionados à adaptação ao estresse do mosquito poderia gerar resultados capazes de combatê-los, mas também produtos que podem inibir o contágio da doença em humanos.

Essas são duas possíveis futuras aplicações de um trabalho que investe na ciência básica para entender aspectos fundamentais para que os a mais possam ser dados.

“Então, se medirmos a tolerância do mosquito, com a possibilidade de fazermos com que fique doente, ele não irá propagar a doença – ou seja, bloqueamos a transmissão”, aponta o professor, que publicou, em 2020, um artigo que questionava Como os vetores de arbovírus são capazes de tolerar a infecção?.

O material circulou no periódico Developmental & Comparative Immunology com uma revisão sobre os mecanismos de tolerância a doenças em mosquitos, destacando também o papel emergente da microbiota intestinal na imunidade do mosquito e na tolerância a doenças. O trabalho de laboratório, agora, faz investigações experimentais para tentar atingir proteínas que possam colaborar com o processo de adaptação do Aedes aegypti ao stress.

Limpezas estão sendo feitas pelas equipes em Florianópolis – Foto: PMF/Divulgação/ND

O professor explica que os mosquitos são seres complexos e muito bem adaptados, o que faz com que resistam a situações que muitas vezes organismos maiores não seriam capazes de resistir – como é o caso da infecção pelo vírus da dengue, por exemplo. É essa adaptação que poderia ser atacada pela ciência.

“Hoje a gente não tem fórmula eficiente de antagonizar a dengue e isso é um grande problema, pois hoje a nossa melhor estratégia é o combate ao mosquito”, explica o professor, reforçando que, no caso dos inseticidas, por exemplo, essa estratégia pode gerar problemas ambientais e também insetos resistentes.

Capital enfrenta situação crítica

Florianópolis enfrenta uma situação crítica na transmissão de dengue, uma vez que a cidade já soma 483 infecções confirmadas em pouco menos de quatro meses.

Num comparativo, todo o ano de 2021, considerado o mais infeccioso da história da cidade, confirmou 195 casos da doença. Com isso, são 288 casos a mais registrados nos primeiros 110 dias de 2022. Mas, afinal, o que explica a alta nas ocorrências?

São José decreta situação de emergência contra dengue e começa ações. – Foto: Divulgação Secom/PMSJ/ND

“Reunimos todas as condições necessárias para a transmissão de dengue e a epidemia atual”, revela o professor de parasitologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), José Henrique Oliveira. Para entender o atual cenário das transmissões, cabe identificar os fatores que levaram à explosão de casos confirmados.

Fonte: ND Mais