Ação civil pública foi enviada para a Justiça Federal pedindo que normas sejam criadas em até 30 dias; Ministério da Saúde não possui diretrizes para tratar o problema.
O governo federal pode ser obrigado a implementar, em até 30 dias, uma política de assistência sanitária para os pacientes da Covid longa. É o que pede o MPF (Ministério Público Federal) em uma ação civil pública enviada à Justiça Federal.
O órgão exige, ainda, que o executivo realize uma busca ativa ou rastreamento das vítimas do quadro prolongado da doença. As informações são de Augusto Fernandes, do R7.
Segundo os procuradores do MPF, a formulação de políticas de saúde específicas para esse os pacientes da Covid longa é dever constitucional da União.
“A União, por meio do Ministério da Saúde, tem o dever de formular políticas de saúde destinadas a prover as condições indispensáveis ao pleno exercício do direito à saúde para os sobreviventes da Covid-19”, destaca o MPF.
“Essa população necessita ser conhecida pela União, para que possa receber atendimento multidisciplinar específico, eis que um mesmo paciente pode apresentar sintomas tão diversos como anosmia, arritmia, dispneia, mialgia e estresse pós-traumático (tudo em razão da Covid-19), o que demanda acompanhamento de médicos de múltiplas especialidades, de psicólogos e de fisioterapeutas, por exemplo”.
O MPF acusa o governo federal de ter sido o responsável pelos danos aos pacientes.
Também ressalta que, desde o início da pandemia no Brasil, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) “quedou-se inerte, não tendo produzido até o final de novembro de 2021 sequer um documento com protocolo para atendimento ambulatorial de pacientes de Covid-19, tampouco diretrizes de acompanhamento, atendimento e tratamento dos agravos e sequelas decorrentes da doença”.
Governo cogita usar programas já existentes
Em entrevista ao R7, no início de dezembro, a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, disse que a intenção do governo federal é utilizar programas já existentes, estimulando os CERs (Centros Especializados em Reabilitação) para lidar com os casos de Covid longa.
“Não tem que diferenciar. Esse paciente está com complicação, mas não transmite a doença. Ele pode ser atendido com os outros”, detalhou. Ela ainda comentou que a pasta não vê necessidade de se implementar uma política específica para acompanhar pacientes com condições pós-Covid.
“Quando começou o debate, achávamos que deveria ter uma (política) específica. Mas foi se mostrando que não. O que é melhor, começar algo do zero ou incentivar o que você já tem, usando esses casos de sucessos para multiplicar? É muito melhor a gente fazer isso, porque as complicações pós-Covid são as mesmas de outas doenças, não é nada novo”, justificou.
O que é a Covid longa: exemplo em SC acende alerta e expõe gravidade
Em julho de 2021, o Estado de Santa Catarina perdeu o comunicador e advogado Evandro Saad, aos 50 anos. Ele descobriu um câncer após uma série de complicações de saúde desde que contraiu a Covid-19, ainda em 2020.
Segundo as próprias palavras, “não teve mais paz” desde então. Ele frequentemente atualizava o quadro de saúde em publicações na sua conta no Facebook.
“Falando por mim, tive Covid no ano ado e desde então nunca mais tive paz. Um período foi inchaço nas pernas, depois veio a fase da febre em conjunto com a sudorese (quatro trocas de roupas por noite, incluindo a roupa de cama), posterior, problemas no pulmão. […] Não está sendo nada fácil, tem dia que me sinto com 200 anos para me movimentar. Por fim, a Covid é uma doença que tem muito ainda a ser estudada, se cuidem, fiquem com Deus e me incluam nas orações de vocês”, escreveu, no dia 24 de junho deste ano.
Saad estava internado no Hospital Regional de São José desde o dia 26 de junho. No dia 1º de julho, ele informou nas redes sociais que descobriu um mieloma múltiplo (câncer nas células plasmáticas).
Infectologista explica os efeitos da doença
De acordo com o médico e infectologista Martoni Moura e Silva, a Covid longa é uma questão que envolve um diagnóstico difícil, visto que a Covid-19 ainda é muito pouco conhecida.
“Não se tem uma regra, não se tem uma definição de quais sintomas são presentes nele, mas é algo bem factível. Tem muitos casos acontecendo, inclusive muitos casos onde a pessoa nem percebe mas pode estar com Covid prolongada”, explica.
Ao relatar os sintomas destes casos, o médico destaca que em muitas oportunidades a doença chega a se manifestar com mais força mesmo muito tempo depois da infecção.
“Os sintomas são cansaço persistente, uma dor de cabeça persistente… e muitas vezes aparecem até sintomas que não se apresentaram na fase aguda da doença. Existem pacientes que apresentam até traumas psicológicos, como síndrome do pânico, depressão, após o episódio da Covid-19, pessoas jovens até”.
No entanto, não existem indicativos de que a Covid possa ter influenciado no câncer que afetou o comunicador catarinense.
“Até então, não temos indícios de que a Covid tenha a ver com lesões malignas, como um câncer de qualquer espécie”.
Moura e Silva destaca, no entanto, que são maiores as chances de problemas de saúde serem diagnosticados quando não se sabe ao certo o que há de errado com um paciente.
“Este caso específico, acredito eu que tenha sido uma coincidência de fatores, até porque quando um paciente que está tendo sintomas que não sabemos direito o que é, fazemos uma investigação diagnóstica mais minuciosa, e assim possivelmente podemos encontrar outras patologias que já existiam ou aram a existir.”
Fonte: ND Mais