Um pedreiro de Balneário Gaivota descobriu que tem uma empresa envolvida em uma fraude de pelo menos R$ 200 milhões. O nome dele teria sido usado em um golpe que começou há três anos e só agora foi desmascarado. A sede da empresa investigada, a WorkScore, fica em Tubarão.
Com promessas de ganho fácil, a empresa teria deixado vítimas em todo o país. A WorkScore teria parado de pagar os valores prometidos aos investidores no começo do ano. Alguns clientes contrataram um advogado especializado e começaram a investigar por conta própria o caso. Eles descobriram que a firma está registrada em nome do pedreiro, sem formação e sem conhecimento em negócios.
A promessa
Robson leva uma vida simples, em Balneário Gaivota, e tem dificuldade para pagar as contas. Três anos atrás, ele emprestou os documentos para a abertura de uma empresa. David Bruno Davos foi quem teria procurado o pedreiro.
“Ele perguntou se eu queria abrir uma empresa. Disse que isso era com ele, que ele sabia trabalhar com isso, que estava com algumas restrições no seu nome e daí disse que colocaria a empresa no meu nome. E eu ficaria com 2% e aceitei”, contou o pedreiro. O nome de Robson consta agora como dono da WorkScore, que trabalharia com marketing digital.
O advogado Jorge Calazans, criminalista especializado em fraudes financeiras, foi quem começou a investigar o caso. “Chamou a atenção um aporte feito no capital social de R$ 90 milhões por parte de um dos sócios. E esse sócio não tinha o perfil socioeconômico de alguém que tinha aportado R$ 90 milhões. Fizemos uma pesquisa e constatamos que ele era um pedreiro. Ele receberia uma ajuda mensal, mas algo pequeno, inexpressivo até”, explica o advogado.
O registro em nome de um suposto laranja é parte da história. “As atividades da WorkScore sempre foram cercadas de mistério”, aponta a reportagem. A empresa dizia vender celulares e outros produtos importados por meio de plataformas digitais. O negócio seria rentável e aberto aos investidores. “O grupo oferecia às pessoas a oportunidade de fazer parte da empresa, com planos de investimento de até R$ 200 mil. A promessa era de um retorno de 20% ao mês, mais do que qualquer aplicação financeira. Mas de acordo com as investigações, não havia nenhum negócio lucrativo e tudo não ava de uma pirâmide financeira”.
A promessa de rendimento bem acima do mercado atraiu clientes de várias partes do país. A empresa pagava bônus para novos investidores. Uma das vítimas mostradas na reportagem teve um prejuízo de R$ 20 mil.
No esquema de pirâmide, não existe receita gerada por qualquer negócio real. Os rendimentos são distribuídos com o dinheiro pago pelos novos clientes que entram no negócio. “Quando o dinheiro acabou, David Bruno anunciou que lançaria ações na bolsa de valores”.
R$ 200 milhões de movimentação financeira
A Polícia Civil de SC confirmou que investiga o caso, mas não quis entrar em detalhes para não atrapalhar as investigações. O advogado Jorge Calazans diz que o grupo fez quase 30 mil vítimas em todo o Brasil e movimentou cifras que am dos R$ 200 milhões. Parte dos recursos seria desviada para a conta dos gestores.
O CEO da WorkScore foi procurado no endereço dele, em Jacinto Machado, mas não encontrou David Bruno. No suposto banco ligado ao grupo, Work Pay Bank, que também fica no Centro de Tubarão, as salas estão fechadas. A energia do local foi cortada por falta de pagamento, mas que as contas continuam chegando em nome do suposto laranja, o pedreiro Robson Hartwich.
“Se ele teve algum erro, foi o de ser ingênuo. Foi por acreditar, assim como as outras vítimas acreditaram. Porque era muito fácil se apaixonar pelo o que eles apresentavam. Só que o que eles apresentavam não era real”, disse a advogada Rossane Fontoura, que representa o pedreiro.
O que diz a empresa
Já o advogado César Paganini, que representa David Bruno e outro envolvido, nega que a WorkScore fosse uma pirâmide financeira e apresenta outra versão para o registro em nome do pedreiro. “O Robson era o sócio- com 99% da empresa desde fevereiro de 2021. Ele tinha suas retiradas mensais, a empresa era saudável, até então vinha cumprindo com as suas obrigações. O Robson recebia os percentuais a ele destinado de forma direta em dinheiro ou através de depósitos em nomes de terceiros cujos os quais ele requeria via WhatsApp. Então o Robson (…) inclusive nós estamos com as ações de dissolução de sociedade e de prestação de contas de tudo aquilo que outrora vinha sendo feito, em favor da empresa, pelos nossos clientes, e estamos aguardando as soluções legais”, conta o advogado César Paganini.
Robson confirmou que recebeu os pagamentos, mas diz que não sabia da fraude e que não lia os documentos que assinava. “Ao meu ver, já começa uma fraude na constituição da empresa para usar o nome dele para que, caso acontecesse o que acontece hoje, que é de não conseguir devolver os valores aportados para as pessoas que investirem na empresa, o responsável legal fosse ele (o pedreiro)”, explica a advogada de Robson.
As investigações apontam que esse não seria o primeiro golpe aplicado pelos envolvidos, que podem responder pelos crimes de estelionato, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Fonte: Sul Agora